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Coisas da vida

 

Avariaram o meu computador portátil. Sim. A situação é muito séria, pois fiquei sem poder ligar-me ao mundo.

Os meus amigos do FB, certamente, ficarão pesarosos com o sucedido, pois eles sabem quanto representa aquela maquineta que, apesar de cada vez mais democratizada, teima em não baixar de preço.

Ocupo parte dos meus dias ligado à net. Informo-me da actualidade nacional e internacional, do desporto e da bolsa, se bem que não seja jogador, e também gosto de participar nos grupos do FB, intervindo, chamando a atenção para situações menos corretas, ou dialogando com outras gentes, sempre no intuito de manifestar o meu direito de participar, de exercer a liberdade de expressão e os direitos de cidadania.

O pior de tudo é que o meu computador avariou-se, ou avariaram-no e agora vejo-me privado de um meio que reputo de grande importância para a minha sanidade mental e estabilidade psicológica, para a ocupação do meu tempo livre e até para a minha intervenção cívica:
"Tens a televisão, a rádio, os jornais, o telemóvel...", diz-me a Maria.

Mas não é a mesma coisa. Acaso ao ver-se TV perguntam-me o que quero ver, quando e como? Ou, ao contrário, servem-me notícias, documentários e diversão quando a maioria dos telespectadores consome mais esses programas e não quando estou disponível? Alguém me pergunta quais as minhas preferencias e interesses, ou apresentam um pacote noticioso diversificado para abranger toda a gente? E que critérios na seleção da informação, ou quais os grupos sócio-profissionais mais visados?

Acaso tenho possibilidade de intervir, diretamente, nos alinhamentos?

Certamente que não.

E na radio? É verdade que há programas de antena aberta ou com participação dos ouvintes nas redes sociais, mas quantos cidadãos entram em antena para dizer o que bem entendem, da forma que melhor sabem expressar a sua liberdade? Quantas e quantas vezes não são interrompidos para apressarem a sua intervenção em favor de outro/a senhor/a, representante disto ou daquilo que toma quase todo o tempo de antena? Quando o locutor apela à participação na página do FB, é mais para conhecer o auditório do que para difundir a opinião dos ouvintes...

O mesmo se diga dos jornais, cuja limitação de espaço é razão suficiente para as tradicionais rubricas onde o leitor pode dizer da sua justiça.

Mesmo assim, continuo a lamentar-me de me terem avariado o meu PC portátil.

Com ele, sei o que diz a imprensa, a rádio e as televisões. Sem ele, a internet não interage, não comunico com os meus amigos, com o mundo, não digo o que penso, quando e como quero, não intervenho activamente na condução dos destinos da minha rua, da minha terra, da minha ilha, do país, do mundo.

A sociedade digital é mais democrática, mais participativa, mais livre. Não foi o FB um dos principais agentes da primavera árabe?

Quem avariou o meu computador, impediu-me de ser cidadão do mundo. Pior se o fez, enquanto jogava um desses jogos que promovem a indiferença, a passividade e a mediocridade e nada contribuem para a discussão franca e aberta sobre o nosso futuro, com gente sensível a ideias contrárias, interessada em buscar consensos e compromissos.  

Quem me avariou o computador sabe para que foi inventado um PC? Sabe que sem um computador muita gente pode ficar isolada, depressiva, fechada num mundo antigo, anterior aos descobrimentos?

O meu computador é um companheiro inseparável, até porque já não posso escrever mensagens e artigos de opinião com a velha BIC - o jornal não o aceitaria!- e também já não se vende fitas para a minha velha máquina mecânica.

Então como será daqui para diante, enquanto não receber o 13.º mês para  adquirir um novo PC portátil?

Será que os meus amigos do FB vão compadecer-se com o que me aconteceu?

A amizade faz maravilhas, mas não produz computadores. Um dia assim será, creio bem!

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

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